Bárbara Wagner & Benjamin de Burca
Swinguerra

Temple Bar Gallery + Studios, Dublin, IE
27 de agosto - 31 de outubro de 2020

A Temple Bar Gallery + Studios tem o prazer de apresentar a primeira exposição do filme-instalação Swinguerra de Bárbara Wagner & Benjamin de Burca, originalmente produzido para o Pavilhão do Brasil na 58ª Bienal de Veneza (2019).

Por meio de uma atitude colaborativa e proativa na produção cinematográfica, Wagner & de Burca demonstram os valores da cultura pop atual e o seu potencial de unificar, empoderar, e estimular mudanças sociais. Através da dança e da música popular como expressão de autoafirmação, Swinguerra representa positivamente os negros, queers, trans e não-binários do Brasil, e traz à tona a ação e a energia dos dançarinos e de seus espectadores. Em meio a atual crise mundial política e de saúde pública, com grande impacto especialmente para as comunidades marginalizadas do Brasil, o retrato da solidariedade coletiva e da auto-representação visto no filme torna-se ainda mais vital e significativo. (1)

A força de Swinguerra está nas nuances com que questiona a injustiça social e a opressão sistemática. Apesar do filme e do seu elenco não declararem instâncias políticas, o desempenho e a narrativa formam uma atmosfera contundente de resiliência e resistência. A obra atinge um dinamismo ímpar mediante a colaboração cuidadosa e direta de Wagner & de Burca com os protagonistas em cada uma das etapas da produção; nos vários níveis sem hierarquia, das perspectivas para troca de conhecimentos e feedback de todos os dançarinos, bem como da equipe. O resultado é uma fusão de realidade e ficção, de palco e rua. A filmagem proporciona atenção completa ao movimento dos dançarinos, realçando a força do desempenho e da personalidade de cada um deles. Wagner & de Burca valorizam não apenas a estética das formas de dança que documentam, mas também ressaltam fatores sociais como: raça, gênero e situação econômica que definem os protagonistas fora do filme. A identidade visual proposta no filme e a expografia, são um convite para o visitante experienciar a apresentação, ao vez de limitar-se apenas ao papel de observador. (2)

Participam do filme vários grupos de dança, integrados e rivais: Cia. Extremo, Grupo La Máfia, Bonde do Passinho, e As do Passinho S.A., apresentando rotinas intensas e ensaiadas perfeitamente de swingueirabrega funk, e passinho do maloca, gêneros de música popular dos arredores de Recife (3). Os três estilos estão representados em ordem, para enfatizar a fluidez dos movimentos e a complexidade das formas que traduzem, que se expande entre os diferentes gêneros, dando ao filme uma narrativa musical. As letras das canções num crescendo desde a sexy swingueira (-eira no sentido de ‘abundância’), passando pelo explícito e muito popular brega (‘cafona / kitsch), até o super masculino e essencialmente pornográfico passinho do maloca (maloca no sentido pejorativo, a dança enfatiza a agilidade dos protagonistas). Todos estes estilos são adaptações de músicas tradicionais brasileiras como o samba e a bossa nova, bem como do reggae e dancehall jamaicanos. Esta adaptação e ‘remodelagem’ de várias formas culturais passadas e bem conhecidas é uma resposta às condições econômicas e sociais, e o desenvolvimento desses estilos novos frequentemente ocorre nas áreas mais desprivilegiadas. A estratégia para o aumento da visibilidade a partir de composições próprias é o caminho rumo ao status e a celebridade. Uma nova geração de MCs de subculturas tem se infiltrado no mainstream do Brasil como artistas profissionais com gravações e espetáculos. Plataformas como Instagram permitem que eles continuem os próprios processos de reivindicações em seus termos, inclusive nas grandes mídias, a sua maneira específica de auto-expressão. Swinguerra documenta esta ambição de sucesso e a fluidez da diversidade artística contraposta à homogeneidade capitalista monolítica.

Percorrendo estes estilos diferentes de dança e terminando com uma poderosa apótese filmada à luz do dia como num campo de treino militar, os protagonistas assumem uma posição firme pela unidade e igualdade no Brasil (4). Alinhados em formação, na frente de um mastro, os dançarinos evocam o lema da bandeira brasileira ‘Ordem e Progresso’, seguido de um canto provocador: ‘Prazer! Estou Voltando!’. Esta mensagem final fica ainda mais pungente nas circunstâncias atuais do País, um ano após o lançamento do filme na Bienal de Veneza. Em vez de se alinharem com as ideologias nacionalistas atuais, os dançarinos de Swinguerra, junto com Wagner ¶ de Burca, afastam-se das estruturas do poder existentes para propor uma nova maneira de pertencer (5).

Bárbara Wagner & Benjamin de Burca exibirão uma nova obra, realizada entre o Oeste da Irlanda e Marselha, como parte da Manifesta 13, Marselha, a partir de 9 de outubro, 2020. Este novo projeto teve o apoio do Arts Council of Irlanda (Conselho de Artes da Irlanda) e foi realizado no âmbito da parceria entre a Temple Bar Gallery + Studios e a VISUAL, de Carlow; a partir de fins deste ano será exibido em várias partes da Irlanda.

Além de representarem o Brasil na 58ª Bienal de Veneza (2019), Wagner e de Burca também tiveram exposições individuais em museus e importantes galerias de arte ao redor do mundo, como: Stedelijk, Amsterdam (2019), Museo Jumex, Cidade do México (2019); Art Gallery of York University, Toronto (2018); e em exposições coletivas importantes como: Skulptur Projekte, Münster (2017), e a Bienal de São Paulo Bienal (2016). Suas obras também foram incluídas no Festival Internacional do Cinema de Berlin (2019, 2018 e 2017); Festival do Cinema de Locarno (2019); e Festival Internacional de Documentários de Telavive (2017); e fazem parte das coleções permanentes da Kadist Art Foundation, França; The Arts Council Collection, Irlanda; Pérez Art Museum, Estados Unidos, entre outros.

(1) O político de extrema direita, Jair Bolsonaro, foi eleito presidente do Brasil em outubro de 2018; e tem repetidamente implementado agendas contra as mulheres e os homossexuais, cancelado proteções dos indígenas e preservação da floresta amazônica, e endossado a violência policial. Durante a atual pandemia de Covid-19, Bolsonaro minimiza a gravidade do vírus e o do seu impacto na população do Brasil, e o Brasil é um dos países mais afetados por esse vírus no mundo.

(2) Wagner & de Burca pediram para o arquiteto de exposições Marcus Vinícius adaptar o espaço de exposições da Temple Bar Gallery + Studios para proporcionar ao público um papel participativo na projeção, inclusive com as poltronas da platéia refletindo as formações dos próprios dançarinos, e com pedaços dos pisos sintéticos das quadras esportivas ao ar livre e dos centros comunitários onde os dançarinos ensaiam.

(3) Recife é uma cidade grande no nordeste do Brasil, terra dos protagonistas de Swinguerra, bem como dos nômades Wagner & de Burca. Tornou-se um lugar com muita inspiração para os dois cineastas, já desde o primeiro filme deles: Faz que Vai (2015), documentando quatro dançarinos (inclusive Eduarda Lemos, protagonista de Swinguerra) que apresentam passos tradicionais de frevo nas regiões ao redor de Pernambuco. O frevo originalmente era dançado nas ruas por escravos libertos, e continua sendo um reflexo da resistência negra à opressão.

(4) É o lugar histórico da derrota dos holandeses pelos portugueses no século XVII e, essencialmente, o berço do Brasil como uma nação. De Burca contou uma anedota calorosa numa entrevista recente, quando descreveu os dançarinos do Swinguerra numa refeição junto com soldados de um quartel, e Wagner acrescentou que vários dançarinos fizeram serviço militar.
Matteo Lucchetti, ‘Recife, Bárbara Wagner & Benjamin de Burca on the Complexity of an Encounter’, Extra Extra, No 13, Rotterdam, 2019.
https://extraextramagazine.com/talk/barbara-wagner-benjamin-de-burca-on-the-complexity-of-an-encounter/

(5) “Todo modo de expressão é problemático, especialmente caso se trate de estados nações, mas isto não significa necessariamente que não devia ser feito. O importante é abrir debates que abranjam complexidade e mudança, e não se bitolar focando-se em uma proposta unilateral do que faz um país funcionar.” Bárbara Wagner e Benjamin de Burca discutindo sobre o significado de ‘representarem’ o Brasil na Bienal de Veneza.
‘The Venice Questionnaire: Bárbara Wagner & Benjamin de Burca’, ArtReview, London, 15 May 2019 https://artreview.com/2019-venice-questionnaire-barbara-wagner-benjamin-de-burca-brazil/

Traduzido para o português pela DCU Language Services.